terça-feira, 28 de julho de 2009

Natiruts

Raçaman

Ao contrário dos que torciam pela vitória do fracasso,
Estamos de volta.
Apesar dos julgamentos infelizes e hipócritas
Estamos de volta.
E essa conversa que se vendeu, que se trocou, que se perdeu
Na nossa firma não cola.
E essa conversa que preto "roots" é preto pobre é preto sujo
Tu aprendeu na escola
Mas a minha consciência é marley,
Isso um dia você tem que aprender
Ser raiz é ter no prato o que comer,
E não miséria pra turista gringo ver.
Aperta um pra achar que está na consciência rastafári
Que ser cantor de reggae é imitar o Bob Marley
Difícil aparecer sendo você de verdade,
Sem inventa caô pra construir trairagem
Mas nesse mundo sujo é ingenuidade
Esperar de uns e outros, sinceridade.
Para o Zé

Adélia Prado

Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.

O texto acima foi extraído do livro “Poesia Reunida”, Editora Siciliano – São Paulo, 1991, pág.99.

domingo, 12 de julho de 2009

Detonautas Roque Clube-Enquanto Houver...

Meu amor,
Os ônibus estão em chamas
Tem gente pegando fogo.

Meu amor,
Quando chove no verão
E sempre tem desabamento.

Meu amor,
De onde vem a ignorância
Dentro dessa confusão?

Meu amor,
Enquanto isso no congresso
Eles roubam o país.

Certamente eles não vão querer
O progresso da nação
E não dormiremos em paz
Enquanto houver injustiças
Não dormiremos em paz
Enquanto houver desisgualdades.

Meu amor,
Tem gente passando fome
Muitos em total miséria.

Meu amor,
Se o estado é negligente
Quem toma conta da gente?

Meu amor,
As crianças sem escolas
Poucos são os hospitais.

Meu amor,
Quando falta educação
Como vocês querem paz?

Certamente eles não vão querer
O progresso da nação
E não dormiremos em paz
Enquanto houver injustiças
Não dormiremos em paz
Enquanto houver desisgualdades.